segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

por que as mulheres evangélicas compartilham o mal?

 

Foto da BBC News Brasil

Você já sabe há tempos que nossas ações ou inações têm consequências. Nem sempre estas consequências são facilmente verificáveis, ou porque reverberam longe de nós ou porque são muito simbólicas, subjetivas, e, portanto, difíceis de medir. O prejuízo individual e coletivo que as famosas notícias falsas produz no Brasil hoje, em particular, é criminoso e incalculável.

No último Censo de 2010, os evangélicos representavam 22, 2% da população brasileira e já se passaram uma década de crescimento desde então. Logo, o comportamento dos evangélicos interfere, sim, na sociedade, já que representa mais ou menos mais de 50 milhões de pessoas.

 O novo milênio apresentou para nós o universo digital e suas facilidades de propagação de conteúdos. Rapidamente as igrejas se apropriaram deste novo modo de operar as relações e comunicação. Surgiram uma infinidade de grupos, sobretudo via whatsapp, com intuito de dinamizar o cotidiano das interações entre os membros de comunidades de fé e entre as comunidades de fé e agremiações periféricas à igreja, como organização de mulheres, homens, diáconos, jovens, adolescentes, etc.

Como alguém que também utiliza e participa de grupos como estes no ambiente evangélico, e de mulheres, posso afirmar que, infelizmente, há dois ruídos problemáticos e potencializados no seu poder maléfico sendo compartilhado à exaustão (mensagem encaminhada com frequência).

São eles: as fake news e a narrativa ideológica do inimigo comunista, de muitos braços, que produzirá o apocalipse. O segundo, geralmente surge com mais força em anos eleitorais, mobilizando temores produzidos  nos países capitalistas desde a revolução russa de 1917. No Brasil, a narrativa anticomunista que mobiliza os medos da família das classes trabalhadoras que não possuem propriedade e nem são donas dos meios de produção aparece desde o fascismo brasileiro da década de 30, passando pela influência norte americana na década de 60 e chegando ao atual momento do poder da ultradireita no território nacional. 

Neste percurso narrativo, a igreja tem muita participação também como massa de manobra (desculpe se a expressão ofender alguém).

Já as fake news disparadas em todas as áreas da vida cotidiana são preparadas intencionalmente para confundir, iludir, manipular emoções e decisões do cidadão. Nada de bom deriva das fake news. 

Infelizmente, como também aponta o Censo, as mulheres representam 58% dos evangélicos e gastamos muito tempo nas redes e, especialmente, no whatsapp. A quantidade de fake news veiculada nos grupos evangélicos de mulheres produz um estrago monumental. 

Recentemente, a jornalista Magali Cunha escreveu um artigo para a Revista Ultimato relatando um resultado de pesquisa nesta área. Sugiro a leitura https://www.ultimato.com.br/conteudo/pesquisas-comprovam-que-evangelicos-se-rendem-as-fake-news-ha-grupos-de-igrejas-dispostos-a-enfrentar-este-quadro

Este será um ano muito difícil, de grandes disputas narrativas feitas também por nós, mulheres evangélicas. A começar pela incompreensão histórica dos fatos atuais, o fechamento radical para o diálogo com o contraditório, e a deriva de uma fé levada pelos temores construídos narrativamente em suas formações, 2022 exigirá de nós mulheres, seriedade na avaliação do que chega até nós e cuidado no que compartilhamos, sempre se perguntando além da veracidade, a quem serve aquele determinado post, ao bem ou ao mal?

pesquisa do Nute da UFRJ com evangélicos; https://drive.google.com/file/d/1xl-5aqKfXmYeSPctboBoNqFzj_21yRHO/view?fbclid=IwAR144ps6MzulvijkbvMgtzL915Tyl48WOszT1vdLML_OnjfvUC2C0BU97hw

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