sexta-feira, 26 de setembro de 2014

sábado, 21 de junho de 2014

Ordenação de mulheres entre os Batistas brasileiros, uma história em construção



Encontro de pastoras em Niterói, RJ
 Em 10 de julho de 1999, acontecia em um eletrizante e histórico culto na periferia de São Paulo, capital, minha ordenação (ou consagração) e posse como pastora titular da PIB em Campo Limpo, uma igreja Batista filiada à Convenção Batista Brasileira.
1999 foi um ano divisor de águas na denominação Batista e na minha vida pessoal. O concílio público foi realizado no dia 26 de junho de 1999, um dia após meu aniversário de 30 anos. Já não era uma jovenzinha, mas a maturidade necessária para enfrentar aquele ano foi sendo ganha aos poucos. Até hoje é impossível esquecer - e não devo - como a decisão de uma comunidade pode transformar toda uma realidade.
Quando a PIB em Campo Limpo instaurou o processo de sucessão pastoral não imaginávamos até onde chegaríamos e o quanto esse caminho poderia ser revolucionário na realidade denominacional.
Engana-se quem achou que sabíamos o que viveríamos, os enfrentamentos , as perseguições, as perdas, os ganhos, a compreensão histórica, entre tantas coisas vividas por mim e por eles e elas, irmãos e irmãs dessa corajosa e batista igreja periférica da capital. Fomos como Maria e Moisés, compreendendo gradativamente e agindo corajosamente na superação dos obstáculos do caminho.
Sou imensamente grata a Deus por viver seu kairós, imensamente grata a Campo Limpo por ratificar minha fé na comunidade e no seu poder. Imensamente grata a amigos e companheiros/as que me sustentaram, motivaram, desafiaram, criticaram, mas que sempre de alguma forma , entenderam que eu poderia viver aquele momento. Gostaria de citar todos, mas cito agora apenas o pr. Antonio Carlos de Mello Magalhães.
pastores da PIB em Campo Limpo, SP

Essa é uma história em construção, sendo escrita. Não há, ainda, nenhum livro ou texto que dê conta do passo a passo até aqui.
No ano de 2016, temos um projeto em parceria para registrarmos essa e muitas outras histórias de vocações pastorais exercidas por mulheres no Brasil Batista .  Até lá, vamos reunindo os textos. Alguns com informações corretas, outros, nem tanto, mas todos compõem os fios a serem tecidos por nós, pastoras batistas do Brasil, na preservação de nossa memória.

domingo, 8 de junho de 2014

Javé é um Deus que sabe

Certa vez, no dia do pastor(a), os irmãos de minha igreja lembraram-se que pastor também é ovelha. Na simplicidade dessa metáfora reside uma verdade às vezes cuidadosamente negligenciada por nós ministros. Nossa função não tem a centralidade que pensamos, pois estamos todos na mesma condição diante de Deus.
A discussão em 1Sm sobre a necessidade ou não da monarquia em Israel é suplantada pela afirmação de como deverá ser esse rei, qual seu compromisso vital. Para Samuel, o rei é Javé, os monarcas humanos devem representá-lo, ou seja, torna-lO presente. Nós pastores (as) não somos Reis, muito menos tiranos , espero, mas somos líderes do povo com o compromisso vital de tornar Deus presente em nossas vidas e comunidades de fé.
No maravilhoso e engajado cântico de Ana (1Sm2,1-10), os atributos de Deus são impressionantes. Nossa pequenez de ovelha desconhece a complexidade da existência e os caminhos da história, mas cremos, como Ana, que Javé é Deus que sabe. O que Ele sabe, vamos compreendendo aos poucos. Por isso, o esperado é ficarmos mais sábios. Como disse a um colega no dia de sua ordenação: tudo muda, nada muda. Nós continuamos com nossas limitações pelo pouco que sabemos, mas Deus trabalha conosco, e em nós, para sairmos da ignorância em direção ao que Ele sabe.

terça-feira, 20 de maio de 2014

filiações de pastoras nos estados de MT, MS, RS, PB



Parafraseando Jesus em Mateus 5,20: "se os religiosos seguidores do cristianismo neste tempo não superarem a mentalidade legalista dos religiosos de todo o tempo, não faremos parte do Reino e o Reino não fará parte de nós." A lei sempre terá uma função importante, assim como os ritos, de regularizar a vida em grupo. Mas Jesus colocou em seu discurso um "eu, porém, vos digo", com ênfase na conjunção adversativa, impossível de ser negligenciada. A lei é boa, mas produz cegueira sobre o que é mais importante. Para Jesus, a vida e as boas relações eram sinal da presença de Deus e a "tangebilidade" de sua vontade. 
Saibam que aqueles que se sentem oprimidos sempre recorrerão às conjunções adversativas do Mestre. Isso porque elas não são apenas discurso bonito, mas potência operativa. Pra usar um termo contemporâneo: Jesus "empodera" discursivamente e operativamente o indivíduo que se sente oprimido pelas forças religiosas e seculares do seu tempo. Aqueles homens e mulheres que conhecem esse Mestre do "porém", lutam pela libertação.
Volto a afirmar que a decisão da ordem dos pastores batistas do  Brasil e ,agora, as decisões estaduais, não modificam a legitimidade de todos os concílios e ordenações pastorais de mulheres até então. Nós e nossas comunidades de fé, nos apropriamos do "porém" cristológico há muito tempo. O resultado da assembleia de janeiro é positivo porque retira a tensão das comunidades e vocacionados, favorece a visibilidade das ordenações. 
Já as decisões estaduais majoritárias (84%, 58%, etc) indicam um desejo destes nossos irmãos pastores de exceder/superar/ a justiça sem misericórdia dos escribas e fariseus denunciada por Jesus no sermão do monte. Fico tremendamente feliz por testemunhar este momento de revisão da ordem. Ainda mais com a possibilidade de renovo no espírito de solidariedade entre os colegas que a presença das pastoras pode vir a possibilitar. Logo, é uma conquista deste nosso tempo e deve ser celebrada.
Aliás, os pastores fluminenses e cariocas precisam decidir sobre as filiações urgentemente. No quadro geral das ordenações no Brasil, o estado do Rio de Janeiro é o de maior percentual. A justiça também precisa exceder por aqui.
Quanto a mim, sigo na decisão de não-filiação. E é imperativo afirmar o porquê, pois esta é a missão que recebi: Todo o poder vem de Deus. Se ele me "empoderou" com a vocação, eu disse "sim". O poder de confirmação, ordenamento e deslocamento pastoral é, entre os Batistas, da comunidade de fé. Qualquer pensamento diferente disso, entre nós, com nossa forma de governo, com nossos princípios, é de procedência humana/maligna. Não consigo esquecer essa verdade e sempre que possível, irei lembrá-los também.
A Ele seja glória e honra, assim como ação de graças pela existência da Igreja.

sábado, 11 de janeiro de 2014

94ª assembleia da Convenção Batista Brasileira: porta aberta às pastoras?



Se me dissessem há 15 anos que a porta para a filiação irrestrita de pastoras à OPBB estaria quase completamente aberta na 94ª assembleia da Convenção Batista Brasileira, eu não demonstraria surpresa. Foi uma longa caminhada nestes 15 e muito mais longa para trás, considerando muitas outras ordenações com finais infelizes, interditadas por violentos "piedosos" ou abortadas ainda quando eram gestadas por vocacionadas em formação teológica ou missionárias com vocação pastoral nos campos. Há muito tempo nós batemos, como viúvas insistentes e impertinentes.
Não acredito que todas as lideranças femininas tenham vocação pastoral, que fique claro! Nem acredito que esposas de pastores tenham necessariamente vocação pastoral ou devam ser chamadas de pastoras por suas congregações. Não mesmo!
Acredito que Deus, através do Espírito Santo, deu dons aos homens e mulheres que constroem a Sua igreja. Dons para servir e, entre eles, o pastoral. Porque recebi este e não aquele não é uma discussão coerente, nem cabe no Mistério. O que olhando para trás percebo é que Deus conhecendo minha personalidade e, tecendo o tempo de outras pessoas e igreja, produziu um Kairós inegável, arrastando com seu vento tudo e todos que estavam no caminho. Foi irresistível para mim e para os que estavam em São Paulo em 1999.
Agora, não é tranquilo ser mulher em nossa sociedade sexista, nem pastora em uma denominação com duplo discurso sobre nosso valor e o que podemos ou não. Daí que algumas escolheram um caminho mais combativo. Nessa visada do passado, acho, inclusive, que as "armas" na minha mão não receberam a desaprovação divina; talvez, nem mesmo o silêncio de outras companheiras. Por isso, cada avanço é importante. Cada "desarmamento" do espírito deve ser celebrado. Cada porta aberta, um grito de alegria.
Que os presentes na assembleia deste ano da Graça do Senhor sejam testemunhas do fim de mais esta barreira humana para o exercício pleno da vocação pastoral das mulheres batistas do Brasil.

Pra. Silvia Nogueira

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

em defesa do sabático

O tempo cronológico não tem nenhum poder sobre o que vai dentro da gente. As nossas "questões" são tecidas em outros ritmos; outras psicologias. Logo, estipular um tempo para o descanso é uma formalidade de calendário e uma disciplina autoimposta sobre as tão preciosas agendas de nossas vidas. Tem a sua utilidade, mas não define o resultado.
O timing do meu "ano sabático" terminou no dia 31 de dezembro de 2013, mas não as ruminações que me levaram até ele. Como foi importante ter desfrutado desse tempo sozinha, sem as múltiplas solicitações da vivência pastoral e religiosa. É uma sandice que recomendo para todos nós que lutamos pelas causas da justiça e da liberdade, mas principalmente para os que servem aos outros como líderes.
Creio que foi a maturidade que me fez perceber objetivamente como é fácil se perder do caminho que trilhamos e de como é fácil mascarar a perda de nossa potência de misericórdia e serviço aos outros com a dissimulação do nosso discurso.
Sim, é muito fácil nos perdermos de nós mesmos e produzir desculpas por ignorar aquilo que realmente é importante!
Essa obviedade promoveu o meu desejo para o sabático. Outras questões, menos óbvias, foram se delineando sobre a terra como tesouros arqueológicos. Camadas de tempo e esquecimento sobre eles :
1. quem luta, cansa. pergunta-se em algum momento pelo sentido da luta, deseja reconhecimento e avanço.
2. sucesso e fracasso são duas dimensões relativíssimas e subjetivas de um ser humano consciente.
3. é preciso perseguir o que nos inquieta, mesmo com medo.
4. nenhuma resposta será percebida com clareza se não soubermos o que perguntar.
5. fazer as pazes com o passado é um imperativo! sem isso, o presente é um fardo.
Os rumos deste novo ano estão rascunhados. Resolvi viver à lápis!

Um bom e bento 2014!
Pra. Silvia Nogueira
 

diálogo no museu da justiça