sábado, 16 de abril de 2016

quando até o amor falha!


se eu não tivesse o amor
seria como sino ruidoso
ou como címbalo estridente. 1Co 13,1b
Há alguma coisa muito errada na terra chamada Brasil e, ao mesmo tempo, em terras evangélicas. Parece haver, nesse atual momento de nossa história,  uma sincronia -que nunca será confessada- entre a "massa" nacional e a "massa" evangélica.
De alguns anos para cá, as gentes dessas terras têm apresentado uma tal incivilidade que dispara os sinais de alerta daqueles que conseguem ver para além das aparências: perigo, perigo, perigo.  O cenário político atual, polarizado de uma forma doentia entre o correto e o inimigo, apresenta o espetáculo do absurdo. O maior absurdo tem sido descobrir que atitudes fascistas são cometidas com muita "dignidade" pelo cidadão comum.
Uma rápida passada pelas timelines das redes sociais, blogs e sítios comprovam como o cidadão "de bem" sabe odiar.  Muitas postagens destilando intolerâncias, purismos, xenofobismo, racismo, sexismo, fundamentalismos.
Até no meio de comunicação mais popular atualmente, o Whats app, somos sacudidos, a cada momento, por correntes espalhando boatos infundados, maledicências, terrorismo, inclusive, gospel, que convidam a repassar para outras pessoas as demonizações diárias da divergência real ou inventada.
Este fenômeno, que em breve será investigado a fundo pelas ciências humanas e sociais e deverá ganhar algum nome que organize racionalmente o que estamos vivendo, tem semelhanças com outros momentos da história brasileira e mundial que encaminharam os cidadãos "de bem" para uma  sensação de unidade, de homogeneidade branca, de direita, santa e fiel as doutrinas, guardiã da moral da família e do vizinho e que envia os cidadãos "do mal" para as fogueiras santas de toda ordem em nome de Deus.
Estão escutando os sinos ruidosos e os címbalos estridentes?
Pois então, eles estão ressoando em nossos arraiais, em nossas redes sociais, em nossos grupos identitários. O som é altíssimo, vindo às vezes de lugares/pessoas inesperadas, vindo das instituições, vindo de uma sociedade que anda se afirmando como capaz de excessos, vindo dos homens e mulheres de bem, vindo dos religiosos e religiosas, de gente simples, de lideranças muito e pouco escolarizadas, de gente pobre, gente rica, deputado e senador.
Andam fazendo muito barulho, ganhando adeptos, marchando...
Com tanta ressonância, é preciso voltar às coisas simples e básicas. Para os que são de Jesus, Batistas ou não, a necessidade é revisitar, quando na turbulência, o valor mais primordial da Revelação:
"ainda se eu tivesse toda fé...
ainda se eu fosse pio...
ainda se eu tivesse fé...
ainda se eu tivesse esperança...
se não tivesse amor, nada disso adiantaria."
Acertamos em muitas coisas como nação e como denominação, mas estamos falhando no amor. E se estamos falhando no amor, nem nossa fé, nem nossa piedade, nem nossa esperança adiantam. Quando nossa fé e esperança superam o amor, estamos falhando. Quando o amor é questionado como o mais alto valor pelos que têm fé e esperança, entendemos tudo errado.
"permanecem estas três coisas:
a fé, a esperança e o amor.
A maior delas, porém é o amor."
No cenário nacional, apoiar o impeachment da presidente eleita da República, no contexto gerador dos motivos, é o caminho da vitória da possibilidade prática do cerceamento da liberdade, do pensamento à esquerda, da vitalidade dos movimentos sociais em sua diversidade, das conquistas para os mais pobres, entre outras perdas.
Na denominação Batista, a exclusão sumária da divergência, o alinhamento do conservadorismo que demoniza e deseja impedir, rotular, alijar os que pensam e leem a Palavra por diferentes perspectivas, como se cada uma delas, inclusive a deles, não fossem fruto de um processamento histórico e de disputas hegemônicas, é o caminho da vitória da possibilidade prática do cerceamento da liberdade, do pensamento à esquerda, da fraternidade na diversidade, do livre exame das Escrituras, da superioridade da Palavra e dos princípios sobre a Tradição.
Talvez o que mais inquieta nesse momento é o grau de satisfação com que a nação e a denominação rechaçam, através de lentes sem amor, o que consideram ilegal. A nação não está amando, pois as características do amor são não buscar seus próprios interesses, não se alegrar com a injustiça, entender que tem apenas a compreensão parcial da realidade. O amor acredita, espera, suporta, perdoa. Então...
Se o cidadão não pensa como nós, ele não é o demônio.
Se nosso irmão não pensa como nós, ele não é o demônio.
Pois ainda que nós estejamos certos, se o que nos orienta não for o amor: a Deus, ao outro, falhamos. E quando até o amor falha...o que nos resta é continuar resistindo.


diálogo no museu da justiça