sexta-feira, 8 de junho de 2018

Sobre silêncios sagrados

Silenciar é verbo pouco conjugado. Temos preferido nos embolar nas palavras ditas e escritas em todo tempo. Às vezes algo nos acontece e saímos apressados a comunicar aos outros que prontamente já retrucam em uma corrente infindável de comentários. Nossa agitação, nossa verborragia diária é assustadora! E, infelizmente, esse nosso jeito de ser nesse tempo inviabiliza nosso encontro com a Transcendência e seus agentes. Um dos agentes da Transcendência é a morte. Tememos seu rastro, seu cheiro, sua aproximação. Às vezes, ela chega tão de súbito que não há tempo mesmo para nada a não ser a aceitação do inevitável. Outras, no entanto, vai se aproximando lentamente, testando a fibra de certos humanos, dando tempo para ajustes, para as glórias teofânicas de Deus, para as surpresas de afetos insuspeitados, para aproximações de quem estava longe, para gestos de amor de quem está perto, para tocar com suas mãos frias uma nota única saída de dentro de todos nós que revela, enfim, aos nossos próprios ouvidos a música que importa na vida. Silenciar é a oportunidade de deixar que tudo se arrume em nós mesmos. Silenciar é dar tempo a si para escutar o barulho leve, o sopro leve, a brisa do agir de Deus. Quem assiste a aproximação da morte do outro, também deve compreender o momento do silêncio. O silêncio para estes é a mesma oportunidade para experimentar a Transcendência. Diante do final de uma vida, nenhuma palavra, nem mesmo as de fé, fazem muito sentido, porque já não é hora para falar, é só hora de ouvir o rumor manso e cheio de calor da presença de Deus.

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